colunista do impresso

A pandemia e natal digital

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

Em 2017, no aniversário de quatro anos da minha amiga Lara, iniciei, com meus familiares e amigos, a campanha Natal Sem Digital. Ela decolou quando fui à festa levando o que sentia ser O presente: um livro de história, capa dura, muita ilustração e pouco texto. Lara recebeu-o, e começou a passar o dedinho, achando que era uma tela touchscreen. Mostrei-lhe que livro é diferente. Ela se encantou quando conseguiu folhear.

Na festa, percebi a maioria dos convidados, entre 2 e 10 anos, usando muito a vontade algum aparelho eletrônico , preferindo a comunicação whatsappiana, mesmo ao lado do amigo.

Lá pensei no quanto o uso desmedido do computador, tablet e smartphone afetava o reconhecimento tátil daqueles pequenos para além das telas. Lembrei de teorias dizendo que tocamos as pessoas para mostrar afeição, compaixão, compreensão, interesse, segurança, e sentimentos potencializados pelo toque. Mas, quando o valor do toque passa despercebido, e o único contato é pela tela azul, isso se refletirá no comportamento social.

Naquele dia, vi o quanto éramos culpados por nossas crianças não saberem folhear um livro, não se sentirem bem quando abraçados, e não comerem sem publicar a foto do prato na rede social. A internet é ótima. Não culpei a tecnologia por um ato que deveria ser nosso, se somos um povo afetivo, que toca as pessoas, poderíamos estar informando às novas gerações que tocar é obsoleto.

Imaginei o dia em que eles não soubessem mais o que é intimidade, ou construir relações interpessoais, porque em 2017 muitos acreditavam que dar um smartphone era melhor do que compartilhar experiências. Este era o recado da opção pelo comportamento digital dizendo que só valia o virtual.

Em 2020, veio a pandemia, as aulas se foram, as visitas acabaram, os abraços desapareceram, os amigos se afastaram, a comunicação interpessoal se comprometeu.

Chega o Natal e, corajosamente, deveremos seguir os Reis Magos. Como eles, mudaremos o percurso com coragem de refazer o traçado. Não teremos cidade decorada, desfile, viagem, grande reunião de família ou celebrações, muito presente e comida, mas teremos coroa do advento, presépio, guirlanda, estrela, pinheiro, luzinha, anjo, panetone e pequeno brinde.

No Natal 2020, teremos mais fazer voluntário, doação de sangue, e amigo secreto virtual paralelo ao trabalho incessante no hospital, shopping, presídio, igreja, e na nossa casa. Tudo parando na rede social. Em qualquer espaço, será Natal. Faremos de tudo para valer a cena, independentemente da pandemia teremos Natal, uma estréia em festa tipo Viena, de máscara, mas com quem amamos.

Se Natal é tempo de milagre, acredito que está acontecendo um agora. Brindemos a luz que existe em nós, neste ano obrigados a um Natal digital.

Caro leitor, o que pensas fazer neste Natal tecnológico?


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

João Belchior Marques Goulart (Jango) Anterior

João Belchior Marques Goulart (Jango)

Previsões de ano novo Próximo

Previsões de ano novo

Colunistas do Impresso